sexta-feira, 30 de março de 2018

o ano tem 525.600 minutos

E a gente vai entendo cedo que lugar ocupar.
1985, a notícia que corria na rua onde morava é que havia uma moça morta, movida mais por curiosidade do que morbidez, fui até lá ver. Fui muitas vezes enquanto não ensacavam o cadáver. Era um assobradado de fundos, haviam desistido de terminá-lo, abandonado, paredes escuras. No que supostamente seria o quarto dos fundos, uma janela para o quinta lá embaixo. O desenho da casa se parecia com a minha. A nossa sala estava no mesmo nível da rua, havia um quintal embaixo da casa. O quarto com horizonte, hoje, passados quase 35 anos já não posso me lembrar. Talvez ali não havia um horizonte a ser lembrado...nem para nós, nem para ela.
Ela estava nua sobre uma grama alta, com as pernas de lado, parecia dormir, essa imagem ficou por muito tempo no meu inconsciente, foi voltando devagar. Hoje é uma memória bem triste, infelizmente não sabemos nada sobre aquela moça com belo corpo que repousava sobre o mato alto. Eu já a imaginei muitas vezes caminhando pela rua, não consigo pensar no agressor, só penso na liberdade que ela tinha. Tinha?
Segundo o anuário Brasileiro de Segurança Pública, apenas 30% ou 35% dos casos de estupro são notificados , estima-se que no Brasil aconteça um estupro por minuto.

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