sábado, 9 de setembro de 2023

Fluxo 2021

 Série com quatro quadros bordados que fazem parte de um projeto de memória, e não me refiro a um campo coletivo ou social, aqui trabalho a memória sobre minha família, mais precisamente aos meus tios e tias irmãos de minha mãe, hoje acho que estão todos falecidos, perdi contato. E tenho uma saudade imensa deles todos. 

Certa vez em São Tomé das Letras, sentada em um café, um grupo de mineirinhos conversavam entre si e fui levada a mesa de café com meus tios e tias. Chorei, doeu, os guardo em minhas memórias bordadas. 

Tio Jorge, homem simples, trabalhou durante muitos anos na faxina de uma fábrica de tecidos que existia no centro de Osasco, lencinhos sempre a mão para limpar o suor de um homem que caminhava muito, seu trabalho precarizado não dava condições de sequer passear de ônibus para visitar as irmãs, e caminhava e enxugava com seus lencinhos de algodão o suor da vida que escorria sobre sua pele caramelo, um indígena agora da cidade. 

Fluxo série produzida em 2021



O início 2die4 magazine

 Em 2003 Vanessa e Amarílio davam início a primeira revista de arte digital do Brasil, a 2die4 magazine, eu que não pertencia, não produzia muito, fui me engajando e me movimentando para colaborar com os amigos, aqui segue um link para entender o processo criativo dos criadores. 

http://revistazcultural.pacc.ufrj.br/revista-on-line-processos-criativos-2die4/




sexta-feira, 21 de agosto de 2020

do corpo feminino cerceado ( mata atlântica/imigrantes)

da série do corpo feminino cerceado, de casa sonhando com a mata atlântica, descendo a serra do mar e indo de encontro com meus passarinhos. bordado #2

do corpo feminino cerceado ( do gosto ou a natureza da língua)



Postei fora de ordem, mas desta série ' o corpo feminino cerceado' o bordado #3.detalhe bordado feito a mão

Delírio


 Delírio nasce de um rabisco antigo e que de certa maneira vem de um incomodo a respeito das aparências que queremos e que não podemos. Muito do que se quer, tem mais a ver com um ideal das mídias e a gente pode até pretender muitas personas, mas dentro desse mundo real, essa metamorfose que alguns artistas criam na expressão e que nos seduz, não no cotidiano, gera frustrações por expectativas irreais e milionárias. A indústria da beleza é um campo de lutas sobre nossos corpos. Tudo muito óbvio, tudo muito capaz de nos adoecer. 

do corpo feminino cerceado ( banho de cachoeira)

Banho de cachoeira

Da tetralogia que começa com o bordado Socorro, um bordado de cachoeira para levar e lavar as coisas ruins que esse país anda vendo e ouvindo. 
Da série do corpo feminino cerceado bordado #4

sexta-feira, 22 de março de 2019

Hometeka autoral

Alguns dos meus bordados estão disponíveis no projeto Hometeka Autoral, quem segue meu trabalho e gostaria de poder ter algum é só entrar no site. Ou falar comigo, claro.
O projeto privilegia também outros artistas brasileiros bem legais. É sempre importante valorizar nossa arte.
https://www.hometeka.com.br/loja/acepipes

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

do corpo feminino cerceado (socorrooo)

 Um Estado antidemocrático, é um Estado punitivo, vigilante de nossas liberdades individuais, vigiam nossos corpos, decidem por nós como, quando, o quê.
Da série, do corpo feminino cerceado: bordado #1



sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Senhores não lhes devo obediência


Que momento delicado esse em que estamos vivendo. Como podemos pensar em trocar a democracia pelo fascismo?
Há tensão no ar.
Esse desenho faz parte da minha série "Derrelição", que estava trabalhando como no original,  mas abri possibilidades por causa do nosso período político e eleitoral, domingo teremos eleições presidenciais e outros cargos de grande relevância para nossos próximos quatro anos.
Que o Brasil se lembre de suas cores, e que estas não se restringem ao verde e amarelo. Somos coloridos demais para o mundo que se apresenta ao som em tentativa de marcha fúnebre.






domingo, 8 de julho de 2018

Objetos (A torre de energia)

Quando criança, as torres de energia eram vistas com muita atenção. Imensas geringonças de metal que nos acompanhavam durante nosso trajeto até o litoral. Virou uma lembrança estranha como todas as outras, tem cara de dia cinza. Acho que o passado tem cara de dia cinza. Nessas horas parece até que acredito nos astros como manual de estar gente no mundo. Aquariana? O passado é uma coisa estranha. Não desprende da gente.
No Instagram  . 

sexta-feira, 30 de março de 2018

o ano tem 525.600 minutos

E a gente vai entendo cedo que lugar ocupar.
1985, a notícia que corria na rua onde morava é que havia uma moça morta, movida mais por curiosidade do que morbidez, fui até lá ver. Fui muitas vezes enquanto não ensacavam o cadáver. Era um assobradado de fundos, haviam desistido de terminá-lo, abandonado, paredes escuras. No que supostamente seria o quarto dos fundos, uma janela para o quinta lá embaixo. O desenho da casa se parecia com a minha. A nossa sala estava no mesmo nível da rua, havia um quintal embaixo da casa. O quarto com horizonte, hoje, passados quase 35 anos já não posso me lembrar. Talvez ali não havia um horizonte a ser lembrado...nem para nós, nem para ela.
Ela estava nua sobre uma grama alta, com as pernas de lado, parecia dormir, essa imagem ficou por muito tempo no meu inconsciente, foi voltando devagar. Hoje é uma memória bem triste, infelizmente não sabemos nada sobre aquela moça com belo corpo que repousava sobre o mato alto. Eu já a imaginei muitas vezes caminhando pela rua, não consigo pensar no agressor, só penso na liberdade que ela tinha. Tinha?
Segundo o anuário Brasileiro de Segurança Pública, apenas 30% ou 35% dos casos de estupro são notificados , estima-se que no Brasil aconteça um estupro por minuto.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Beija-flor-do-papo-branco na flor de Ypê

Meu sobrinho mais velho se casou neste fim de semana, quis fazer um presente para eles, pensei em algo leve e que pudesse abrir seus olhos para fora. Eu sempre acho que a arte nos fazer as coisas. Então, bordei esse beija-flor para ele olhar a beleza da natureza. Meu sobrinho é um pouco bruto, mas um bom rapaz.
Desejo aos noivos paciência e sabedoria. Talvez deseje a mim também...

No rastro do caracol

Fui convidada gentilmente pela artista e curadora Renata Cabral para participar da exposição coletiva de bordados contemporâneos na galeria Jardim Mariah em João Pessoa, Paraíba.
Muito feliz com a iniciativa, com o convite, quem estiver pelas bandas de lá, mande abraços e hashtags.


quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Vamos falar sobre violência doméstica

 Eu nasci em uma ambiente favorável, acho que até amoroso, mas por volta dos meus 4 anos de idade, meu pai se transformou. Nossa vida doméstica virou um pequeno inferno eu diria.
 Meu pai tinha 22 anos quando eu nasci, segundo a lenda, ele estava noivo de outra mulher e seu pai, o dissuadiu a terminar a relação e se casar com a minha mãe. Ele aceitou a ideia, mas isso teve um preço e um chantagem.
 Meu pai vinha de uma classe social um pouco melhor, sua família tinha imóveis e viviam de aluguéis e um pequeno comércio.
 Já ela, era de origem humilde, e chegou a trabalhar junto com seus familiares em plantações de café no interior de Minas e São Paulo, mas também trabalhou como copeira, faxineira, enfim, subemprego de imigrante italiano. Sobre a sua cultura do interior, eu adoro relembrar, seja por meio do paladar, vide que minha família materna era de Minas Gerais, e minha mãe, como a maioria das mães, era a responsável por nosso desenvolvimento. Ela também me ensinou um pouco sobre música brasileira antiga, cantava as cantoras do rádio, as marchas de carnaval. Minha mãe já tinha um filho de um relacionamento bem anterior, meus pais tinham 10 anos de diferença e minha mãe era a mais velha na relação. Meu irmão por parte de mãe, não conheceu seu pai. Ele foi criado por todos os tios e por meu avô materno. Meu pai, sugere então, que minha mãe faça uma escolha, ou ele, ou meu irmão. Isso refletiu em toda a nossa vida, porque ela, que já havia tido um filho, aos 19 anos sem pai, poderia novamente viver essa "maldição da mãe solteira", por isso, meu irmão foi criado por tios e tias. Criamos um monstro, mas eu tinha um "pai".
 Meu pai se transformou em um alcoólatra extremamente violento, não sei quantas vezes fomos a delegacias para prestar queixas contra ele, ou quantas internações por conta do vício. Em uma visita dessas de domingo, fui vê-lo no famoso manicômio Juqueri em Franco da Rocha, no começo dos anos 80.
Há uma cena muito forte na minha memória, eu tinha por volta de 5 anos, e ele chegou em casa, com muita raiva, eu e minha irmã percebemos que ele iria bater na nossa mãe, então, ela sentada sobre a cama, nós duas a abraçamos, fazendo um ninho, tentando protegê-la,  conseguimos dessa vez. Só dessa vez.
 Seus problemas com o álcool e talvez outras drogas eram muito intensos, eu nunca entendi como essa dependência podia desencadear tanta raiva e violência em uma só pessoa.
 As relações entre meu irmão e meu pai, também só pioravam, chegaram a trocar socos e tiros, não éramos poupadas das cenas. Um dia, fugimos de casa, deixamos a maioria de nossas coisas para trás, meus brinquedos, me lembro deles até hoje, não consegui levar junto comigo. Nos mudamos para a casa da família do meu irmão, as coisas não eram fáceis, e meu irmão, que não era filho do meu pai, tinha a mesma personalidade violenta e alcoólica. Da mesma forma em que ele via o padrasto destilar sua raiva em sua mãe, ele não hesitou em fazer o mesmo com sua esposa. Vivi entre eles até os meus 25 anos, vi violência doméstica até os meus 25 anos. Ela acabou para mim aí...mas meus sobrinhos e minha cunhada, levaram mais tempo para ter paz. Vivendo ali, por anos, imaginei que alguém podia entrar na nossa casa e acabar com nossas vidas, porque meu irmão tinha ou tem uma índole descontrolada dentro de si, capaz de muitas inimizades, nunca soube se suas histórias eram ou não verdadeiras, mas eu não posso com elas.
 Minha mãe morreu quando eu tinha 19 anos, e por seis anos, ele tentou cercear minha liberdade, coisa que a minha mãe também fez, só cada um com suas motivações. A dela, por medo de que eu tivesse a mesma vida difícil que ela teve. E ele, por ser achar propietário pós-mortem.
Não me digam que o feminismo é desnecessário.


quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Programa Estilo Arte 1 - Band

Programa que foi ao ar no dia 14.10.17.
Aqui, um link da matéria.
Estilo Arte 1 - Andrea Lourenço









Bacanais entre o céu e o inferno


 Deixa eu contar uma história, ainda sobre o canal Arte 1 da Band. Dia desses eles colocaram um link com a entrevista na rede social Facebook, a foto que ilustra o vídeo é "Bacanais entre o céu e o inferno".
Para eu falar desse desenho que cito acima, eu primeiro preciso falar do começo de tudo. Eu acompanhei dois amigos na produção de uma das primeiras revistas de arte eletrônica do Brasil a : 2die4.
Amarilio e a Vanessa me estimulam a apresentar alguns trabalhos. Os desenhos vão nascendo ali junto com a  revista, os primeiros trabalhos são mais simples, bem tosquinhos, mas com identidade e eu levo isso para essa obra "Bacanais entre o céu e o inferno". Ao mesmo tempo em que os personagens são apresentados de forma simples, os bordados completam a cena do bacanal fazendo aquilo algo um pouco mais complexo. E vou bordando para trazer minhas referências maternas para o presente.
Bacanais entre o céu e o inferno aparece como um reflexo do nosso tempo, posso ir um pouco além e falar sobre a promiscuidade entre a religião e a política, ou ainda um descompasso entre o que é pregado pelo cristianismo e a realidade, que não caminham juntas, levando em conta que o respeito ao próximo, respeito as diferenças de gênero, sexualidade, classe, extorsão pela fé, violência sexual dentro da igreja são aspectos que destoam da moral cristã.  Há muitas divergências nesse campo, então a promiscuidade do desenho, é sobre uma promiscuidade ideológica. Entre o céu, que é o ideal proposto pelas religões e o inferno que são os pecados dos homens. O desenho vai um pouco além do sexo, o sexo ali, é só um artíficio da moralidade, e de fato funciona, faz-se olhar, mas não se faz ver. O conservadorismo não nos dá clarividência...nosso olhos seguem na noite escura das opiniões...porque ninguém veio me perguntar o que eu estava dizenda ali.
Meus demônios sexuais, são demônios sociais, mesmo quando há sexo envolvido nas imagens apresentadas, já que estamos cada vez menos livres e cada mais cristãos, não faz sentido o nosso tempo, e o desenho é sobre isso.
Há duas coisas que não andam dialogando no nível da racionalidade. O meu desenho tenta dialogar com alguma razão, que pode sim caminhar com a espiritualidade, já que é imprenscidível entender as escrituras, e as entrelinhas da vida em sociedade.

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Alter do Chão - Inspiração amazônica

Já que eu falei sobre inspiração em dois posts atrás, preciso dizer que meu coração se abriu para essa Vila Balneária que pertence a cidade de Santarém, eu posso dizer que uma série de sensações me possuíram nestes dias em que nós estivemos lá. Primeiro, estar na Floresta Amazônica é algo edificante, porque esta floresta, especificamente,  é lugar onde construímos uma certa fantasia que começa na escola com as lendas folclóricas, os bichos e sua natureza exuberante. Eu trouxe na minha mala os sons dos pássaros e dos macacos, do rio no final da tarde com seu balanço sem pressa, e do carimbó.  Trouxe a saudade do açaí, do cupuaçu, do taperebá, do muruci. Da gente com a linda tez indígena e sua educação a todo instante. Trouxe uma dorzinha por ser longe e querer voltar mil vezes. Trouxe a paz que a cidade de São Paulo tem me tirado. Me senti mais do que nunca parte dessa terra, que o Brasil cresça, já estamos sem maturidade política para preservar essa beleza que é o Rio Tapajós e seu povo. Meu coração fica pequeno quando penso neles, uma parte de mim permaneceu ali, foi a troca por tudo que trouxe nessa mala. 


Os passarinhos da primeira foto : cardeal-da-amazônia. Que já havia virado um bordado no ano passado, eu não imagina que eles fossem tão pequenos. 

A sereia e o mergulhador

Essa sereia foi uma encomenda que fiz há alguns meses para a querida Natália da minha cidade Natal, porque em Oz, também tem sereias e ruivas.
Para quem quiser ver os trabalhos atualizados, entra no meu instagram.

Acepipes de Lourenço

Arte 1 - Mea Culpa


Ontem eu dei uma entrevista para um canal de tv, vamos torcer pelos editores. Quando tenho que falar sobre o que eu faco é inacreditável minha inabilidade, o rapaz me disse que eu poderia repetir, mas eu não consegui por timidez, e ele não conseguiu, daí já não sei o por quê, logo eu que gosto do modo como as coisas são ditas, me interessa, mas não posso fazer sozinha em algo que eu nem sei como.
A cada pergunta eu entrava em túnel vertiginoso, e tudo se misturava e desaparecia. Segundo  Hilda Hilst, no livro de entrevistas, Fico Besta Quando Me Entendem, qualquer idiota pode ser espontâneo, eu fui espontânea, logo me tornei uma idiota.
Uma pergunta simples e eu não consegui responder, ou melhor, respondi da forma mais simples que podia, porque tudo o que já vi na vida, desapareceu.
Quais as suas inspirações, referências?
Eu tenho um vasto mundo de inspirações e só pude dizer que gosto muito de Ana Tereza Barbosa, a rainha do bordado...Rainha do bordado, por quê reduzir alguém que de certa forma, revitaliza essa técnica de bordado + bastidor para compor uma série, inspirando uma nova leva de artistas,  e eu  a reduzo a rainha, eu a considero muito mais do quê uma rainha, porque ela está muito além da sorte de nascer em berço esplêndido.
Uma grande artista e bordadeira, tem que dedicar-se para fazer o que ela faz, sendo refêrência mundial para outras artistas e bordadeiras  contemporâneas. A questão em si, é minha vulgaridade oral, misturada a um embaraço que me faz fugir de mim mesma diante os outros. Uma pena, podia ter sido ótimo, mas sou espontânea demais para entrevistas.

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Memória - Bordado sobre lenço


O passado não é algo imutável, se transforma a cada recontagem da história. Em tempos de exposição excessiva, a memória se reduz a frames desse nosso coração de bolso. Os objetos agora, tem uma função irrelevante nessa memória, uma tal desimportância pelas coisas, a banalização do ter como apreensão de um instante. Se até então nossa história era contada a partir de retalhos e souveniers, neste novo milênio os registros frenéticos tomam esse lugar da afetividade dos objetos. Me proponho a um fio que me conduza as minhas experiências/vivências. Ao que meus olhos puderam apreender e como os transformar. O bordado é uma referência materna, e a partir dessas linhas religo essa árvore genealógica que me foi amputada, eles que eram tímidos em trabalhos anteriores, hoje são protagonistas no meu ofício. As linhas são o elo entre o presente e a infância, e repensar o passado nestas imagens recontrói a minha história. Bordado da casa 1/3 No caso esse bordado sobre lenço, é uma referência a tios e avôs. Os meus ou os seus.
http://acepipesdelourenco.blogspot.com.br/2016/06/memorias-bordado-sobre-lenco.html